Consumering

Se o marketing adapta um negocio ao mercado o que que fazem as empresas que se adaptam ao consumidor? Fazem Consumering. Um blog de artigos sobre como transformar uma empresa comercial num negocio de produtos preferidos pelos consumidores. www.consumering.pt

11/02/2009

Hoje no Jornal de Negócios

Proteccionismo em debate
"Compro o que é nosso" na comida e quando não dói na carteira
Eugénia entra. Quase meio-dia. O "patrão" está à espera da sopa. Saco numa mão, batatasProteccionismo em debate na outra. Portuguesas. Só portuguesas. As espanholas parecem água. E os espinafres? Deslavados. A cebola? A portuguesa grela mais, é certo, mas a espanhola é rija que se farta. "O que é português é bom. Mais caro, mas de melhor qualidade", dita Eugénia. É assim há 20 anos na mercearia do senhor Santos, uma casa do Bairro Alto com cheiro a laranja.

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Lucia Crespo
lcrespo@negocios.pt


Eugénia entra. Quase meio-dia. O "patrão" está à espera da sopa. Saco numa mão, batatas na outra. Portuguesas. Só portuguesas. As espanholas parecem água. E os espinafres? Deslavados. A cebola? A portuguesa grela mais, é certo, mas a espanhola é rija que se farta. "O que é português é bom. Mais caro, mas de melhor qualidade", dita Eugénia. É assim há 20 anos na mercearia do senhor Santos, uma casa do Bairro Alto com cheiro a laranja.

A "orgulhosamente portuguesa" Eugénia parece ser uma excepção em Portugal, onde o médico de chapéu verde, Silva Guerra, considera a oferta lusa insuficiente e a alfarrabista do Chiado, Maria Vasconcelos, trocou o Bom Petisco por latas de atum a 80 cêntimos.

Nem médico nem alfarrabista ficaram sensibilizados com o argumento do ministro da Economia, que convidou os portugueses a canalizarem 10 euros mensais para produtos portugueses, em vez de estrangeiros. "Pois, mas provavelmente, eu não conseguiria gastar apenas 10 euros ou, então, levaria menos coisas para casa", atira Maria Vasconcelos.

Xenofilia do consumo

"Os portugueses são um dos povos europeus que tem menos orgulho nos seus produtos. Uma xenofilia do consumo", diz o consultor de marcas, Henrique Agostinho. Porquê? "Porque foram vítimas de 50 anos de campanhas de 'compre o que é nosso' extremamente musculadas. Desde a II Grande Guerra que o condicionamento industrial, o proteccionismo das fronteiras, a desvalorização do escudo e o País na banca rota, entregue ao FMI, forçaram os portugueses a comprar o que era deles. Resultado? Uma profunda desconfiança sobre a qualidade dos produtos . E não há campanha de publicidade que dê a volta ao problema", considera.

Mas o senhor Santos gosta de comprar "o que é nosso". Todos os dias, pelas sete da tarde, parte em direcção ao mercado abastecedor de Lisboa, o MARL. Procura o grande "P" envolto em vermelho e verde . "É este", aponta para um pacote de arroz Caçarola. Lá está, o símbolo do "made in Portugal",

O "Compre o que é nosso", iniciativa da Associação Empresarial de Portugal (AEP), nasceu em 2007. Hoje integra 350 empresas que representam 1500 marcas e 8,5 milhões de facturação. "O nosso projecto nunca se assumiu como proteccionista. Tentamos, sim, colocar no mercado produtos com valor acrescentado para o País", ressalta Paulo Nunes de Almeida, vice-presidente da AEP.

1 Comments:

  • At 12:21 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    "O nosso projecto nunca se assumiu como proteccionista."

    É impressionante, as piruetas de lógica que esta gente dá. Se "compro o que é nosso" não é proteccionista, então o que é?

    Alguns portugueses querem ter tudo: o dinheirinho da UE, que foi a única forma de se fazer algo neste país, sem a liberdade de escolha - e a inevitável comparação negatíva da maioria dos nossos produtos - que a UE implica.

     

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