Consumering

Se o marketing adapta um negocio ao mercado o que que fazem as empresas que se adaptam ao consumidor? Fazem Consumering. Um blog de artigos sobre como transformar uma empresa comercial num negocio de produtos preferidos pelos consumidores. www.consumering.pt

14/09/2004

2 (season II) - Aquilo que toda a gente faz

Qualquer ser humano que faça uma introspecção séria às suas motivações vai descobrir, ainda que com espanto, que uma boa parte das suas iniciativas se destinam a melhorar a sua vida sexual. É um tema cheio de tabus, pejado de dissimulação, é até difícil de abordar, mas não há que enganar. Do tanto que no mundo se faz, o principal motor é mesmo a satisfação física. Claro que há quem conteste, quem se julgue superior, quem se negue a admitir. Mas os factos estão lá. O que cada um é para os outros, é muitas vezes o reflexo do que cada um precisa de ser, para bem do seu desejo. Fique-se então com esta. O bem-estar sexual é um objectivo humano incontornável e os relacionamentos são uma das categorias de produto com maior envolvimento do consumidor.

No produto sexo, todos são compradores, todos são vendedores e cada transacção é o resultado de uma escolha que prevalece sobre uma infinidade de alternativas. Então, se há escolha envolvida, o marketing é importante, não fosse o marketing o modo de tornar evidente a vantagem de uma escolha sobre às alternativas. Logo, como em qualquer produto, para tornar a escolha preferível, o fabricante tem de proporcionar ao comprador um ganho considerável. Chama-se a isso oferecer um Benefício e, no mercado do sexo, para o comprador o benefício é só um, o prazer.

O mercado do sexo é então uma categoria mono-beneficio. Ou seja, no sexo, a generalidade dos compradores, entra no mercado em busca de uma só vantagem, o prazer. E se assim é, para os fornecedores, facilitar a escolha devia ser linear. É uma questão de dar mais prazer. Só que, com tantos milhões de fornecedores não é credível que a abordagem de “ser o melhor do mundo”, vá colher os seus frutos. Está bem claro que, se toda a gente tem prazer para dar, procurar ser reconhecido como aquele que, de entre todos, dá mais prazer, não vai funcionar.

Postos perante o dilema de fazer o mesmo que a concorrência e simultaneamente precisar de ser o preferido, os gestores de marca tendem a achar que a coisa se resolve sozinha, que basta também existir e também anunciar para que alguém acabe por comprar. Estranho é que, nas suas vidas, não apliquem a mesma solução. Fossem estes gestores, fora do horário de expediente, amantes generalistas ao serviço de quem aparecer e entenderiam bem o erro da sua estratégia.

Na vida de cada fornecedor de prazer não é quem promete mais prazer quem mais vende. É que essa parte do mais prazer já era, já esta assumida, a distinção, a escolha, deixou de ser feita pelo que se faz, para tornar importante a forma como se faz. E o prazer vem agora em imensas formas. A mais comum é a dedicação a um parceiro, a monogamia. Mas também há a facilidade de acesso. Ou a dificuldade. Ou os negócios de nicho, e as suas infinitas sub-categorias dos voyers, exibicionistas, swingers, púdicos, homo, bi, virgens, etc, etc.

Para que um fornecedor de prazer seja escolhido tem de convencer o potencial comprador que o prazer que vai receber é especial, único e irrepetível. Ora porque é monogâmico, ora porque dispõe de um qualquer atributo reconhecível, como o ser grande ou giro, ou até porque é o único que se arranja para aquele caso. Tem é de ser um exclusivo do fornecedor. Uma condição que explica bem o sucesso que a virgindade faz neste mercado.

No sexo, que deve ser a categoria mono-beneficio com maior concorrência. Não importa tanto o que se faz, quanto importa o como se faz. Ou seja, no sexo a escolha depende do RTB (que vem do inglês “Reason to Believe”), a Razão para Acreditar na capacidade de dar prazer. Quando todos os compradores procuram a mesma coisa, e por isso todos fornecedores prometem a mesma coisa, a forma de potenciar a escolha, o Motivo de Compra, precisa de incluir, além do Benefício (que lembre-se, é igual para toda a gente) a forma como o fabricante garante a entrega desse benefício. Como seja o modo como o produto funciona, que por ser única, levará o comprador a acreditar que será especialmente bem servido.

Além do sexo, há mais categorias mono-benefício, como os detergentes da roupa. Onde todos os produtos servem para o mesmo, e todos os compradores querem o mesmo benefício, a limpeza. Então, cada uma das marcas não teve outra alternativa que não fosse incluir no seu Motivo de Compra uma Razão para Acreditar. Que vai desde a recomendação dos fabricantes, até ao lava o mesmo mas mais barato, passando por ter amaciador ou até aos cómicos glutões papa-nódoas.

Nas categorias mono-benefício, o que importa é o como se faz, já que tal como no sexo, toda a gente o faz. Assim, uma marca que queira ser preferida numa categoria onde todos andam atrás do mesmo, tem mais é que fazê-lo de forma diferente, apostando a sua reputação numa exclusiva Razão para Acreditar, credibilizadora do que faz bem. Já que a alternativa do fabricante é deixar que a escolha recaia sempre no líder da categoria. Implicando que ser o líder é a melhor posição de todas

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