Consumering

Se o marketing adapta um negocio ao mercado o que que fazem as empresas que se adaptam ao consumidor? Fazem Consumering. Um blog de artigos sobre como transformar uma empresa comercial num negocio de produtos preferidos pelos consumidores. www.consumering.pt

04/02/2006

Comprar o mundo com uma Coca-cola

A propósito do último post e dos comentários que suscitou, ficou mais ou menos aparente que:

- Todos concordam que é possível mudar a realidade com a publicidade (todos é um claro exagero)
- Todos concordam que é bem difícil fazê-lo (leia-se muito caro).

Esta unanimidade (de uma ridiculamente pequena amostra) não resolve bem o dilema. Porque se uma coisa é possível mas extremamente cara, é em termos práticos, equivalente a dizer que essa coisa é de facto impossível. A propósito, nas escolas de engenharia, provavelmente não em todas, costuma contar-se aos caloiros uma qualquer de muitas histórias cuja moral é sempre a mesma: “ser possível é, depende é de quanto quiser gastar”. Seja o dispêndio de tempo ou de dinheiro.

Ou seja, sempre que a pergunta for:
- Pode a publicidade levar os sauditas a comer bacon?
A resposta tenderá a ser:
- Sim, pode, mas bem fica mais barato invadir o Iraque.

Como tal, a hipótese de exportar suínos para a Península Arábica, por via da publicidade, não passa de uma mera hipótese académica pois ninguém tem o dinheiro ou a paciência para o fazer. Regressa assim a hipótese original que é: A publicidade pode mudar o mundo, mas fica demasiado caro fazê-lo. A não ser, que em vez de querer comprar o mundo com uma Coca-cola, se aproveite para vendê-la. Fica mais barato e funciona na mesma.

Como em 1971 (data do aludido anúncio da Coca-Cola) não se vendia a água suja do imperialismo por estes lados, mais vale arranjar outra explicação, para o assunto. A solução para o dilema de ser ou não possível mudar o mundo com um orçamento, encontra-se, como sempre que o quisermos assim interpretar, nas velhas teorias orientais. Explicitando, a forma economicamente viável de mudar o mundo é aproveitar o seu movimento para o derrubar.

A publicidade, tem um efeito espantoso de catalizador. A publicidade pode acelerar ou travar acontecimentos, e fá-lo bem baratinho. Mas não se pense que a publicidade pode, a preços de hoje, alterar o curso final dos acontecimentos. Reposicionar, mudar a percepção, alterar comportamentos, sensibilizar, são mais vezes do que menos, tarefas para as quais os gestores de marca não dispõem de orçamentos capazes. Como tal, um bom gestor de marca reconhece-se pela capacidade de catalizar transformações latentes em proveito próprio. O que normalmente só é exequível se souber pôr de parte o egocentrismo típico de que faz anúncios para dizer que mudou de logótipo, ou gastou dinheiro nas obras da sede, mas isso já não era bem o tema.

9 Comments:

  • At 11:38 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Talvez seja pertinente pensar no que o Trout e Ries falam no "fall of advertising e rise of PR". No fundo a publicidade pelas vias tradicionais atinge rápidamente níveis de indiferença e, por muito que se usem os meios tradicionais e a notoriedade espontênea chegue 99,999% isso não se repercute em vendas, porque somos bombardeados de informação por todos os lados.

     
  • At 11:18 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    boas..., se o tradicional anúncio de 30" já não atinge o ojectivo de aumento de vendas, consumo de um produto então qual será o proximo passo. Manipulação, pressão editorial nas televisões, jornais, etc??? é este o caminho

     
  • At 11:00 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Mudar verdadeiramente demora tempo. Algo que os actuais decisores, a todos os niveis, seja político ou económico, não concedem. Nunca como agora se pensou a tão curto prazo.
    Ainda há 10 anos, os balanços era anuais. Agora, tudo tem que acontecer em 3 meses.

    Por outro lado, a sobrecarga de informação no cérebro dos consumidores, favorece a utilização dos mecanismos mais primários de influência. Vender é fácil, quando se sbe como. Achar que se está a mudar alguma coisa quando se vende, é uma ilusão.

    As verdadeiras mudanças são sociais e tecnológicas, nada que a publicidade controle.

     
  • At 3:50 da tarde, Blogger Consumering said…

    Concordo, a publicidade não "controla" a mudança, mas influencia-a, pode acelerar, travar, alterar, tanto que no longo prazo o resultado final seja substancialmente diferente do que seria sem esse efeito.
    Um exemplo que conheço bem: Pelo efeito da publicidade o ritmo de crescimento da reciclagem mais do que triplicou nos últimos 3 anos. O resultado, no longo prazo, é que Portugal se poderá transformar, dentro de 6-7-10 anos numa economia recicladora, algo que muito provavelmente não aconteceria sem essa bela publicidade, catalizadora.

     
  • At 5:44 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Um bom exemplo.
    Pegando nele, também sabemos que o panorama da reciclagem em portugal é bastante confuso. As normas variam de região para região conforme a empresa concessionária.
    Fazemos um anuncio que diz: isto vai para o amarelo. Mas isso é válido na região de lisboa e não em santarém. Ou seja, o produto tem que melhorar, ou portugal nunca será uma economia recicladora.
    Não há publicidade que resista à microgestão dos comportamentos.
    A "Marca" reciclagem até pode ter passado, o Comportamento reciclagem, está a ser inibido por um mau desenho do produto.
    Não basta a publicidade chegar ao consumidor, o produto tem que chegar lá primeiro, logo na concepção.

     
  • At 6:27 da tarde, Blogger Consumering said…

    Mas estará mesmo o comportamento reciclagem a ser inibido (de morte) por essas fragilidades (óbvias e absurdas) do produto?
    A verdade é que a reciclagem está a crescer a um ritmo equivalente à conversão de 600.000 pessoas por ano (quando antes da publicidade "apenas" aderiam 160mil) num universo de 10 milhões, o "efeito publicidade" poderá, dentro de 5 ou 7 anos causar que o "País Reclica" algo que de outro modo não iria acontecer.
    Só para confirmar, esta diferença destes resultados é atribuível em grosso à publicidade, os outros factores (melhoria do produto, melhoria da população) estão a ser demasiado lentos para justificar estes crescimentos.

     
  • At 2:43 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Gostava de um post que em vez de criticar, mandar abaixo o trabalho dos criativos e publicitários do nosso país, tentasse demonstrar o que de positivo se tem feito.
    Obrigado

     
  • At 6:46 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    E aí galera, dêem uma conferida nesse link, é uma página que vai mostrar todos os oito filmes da Nike da Copa do Mundo antes de irem para a TV. O primeiro é muito louco e mostra o Eric Cantona com uma baita barba invadindo um estúdio de TV na Alemanha. Vale a pena conferir.
    É só acessar http://www.nk6.com.br/jogabonito

     
  • At 9:08 da tarde, Anonymous Anónimo said…

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