Comprar o mundo com uma Coca-cola
A propósito do último post e dos comentários que suscitou, ficou mais ou menos aparente que:
- Todos concordam que é possível mudar a realidade com a publicidade (todos é um claro exagero)
- Todos concordam que é bem difícil fazê-lo (leia-se muito caro).
Esta unanimidade (de uma ridiculamente pequena amostra) não resolve bem o dilema. Porque se uma coisa é possível mas extremamente cara, é em termos práticos, equivalente a dizer que essa coisa é de facto impossível. A propósito, nas escolas de engenharia, provavelmente não em todas, costuma contar-se aos caloiros uma qualquer de muitas histórias cuja moral é sempre a mesma: “ser possível é, depende é de quanto quiser gastar”. Seja o dispêndio de tempo ou de dinheiro.
Ou seja, sempre que a pergunta for:
- Pode a publicidade levar os sauditas a comer bacon?
A resposta tenderá a ser:
- Sim, pode, mas bem fica mais barato invadir o Iraque.
Como tal, a hipótese de exportar suínos para a Península Arábica, por via da publicidade, não passa de uma mera hipótese académica pois ninguém tem o dinheiro ou a paciência para o fazer. Regressa assim a hipótese original que é: A publicidade pode mudar o mundo, mas fica demasiado caro fazê-lo. A não ser, que em vez de querer comprar o mundo com uma Coca-cola, se aproveite para vendê-la. Fica mais barato e funciona na mesma.
Como em 1971 (data do aludido anúncio da Coca-Cola) não se vendia a água suja do imperialismo por estes lados, mais vale arranjar outra explicação, para o assunto. A solução para o dilema de ser ou não possível mudar o mundo com um orçamento, encontra-se, como sempre que o quisermos assim interpretar, nas velhas teorias orientais. Explicitando, a forma economicamente viável de mudar o mundo é aproveitar o seu movimento para o derrubar.
A publicidade, tem um efeito espantoso de catalizador. A publicidade pode acelerar ou travar acontecimentos, e fá-lo bem baratinho. Mas não se pense que a publicidade pode, a preços de hoje, alterar o curso final dos acontecimentos. Reposicionar, mudar a percepção, alterar comportamentos, sensibilizar, são mais vezes do que menos, tarefas para as quais os gestores de marca não dispõem de orçamentos capazes. Como tal, um bom gestor de marca reconhece-se pela capacidade de catalizar transformações latentes em proveito próprio. O que normalmente só é exequível se souber pôr de parte o egocentrismo típico de que faz anúncios para dizer que mudou de logótipo, ou gastou dinheiro nas obras da sede, mas isso já não era bem o tema.
9 Comments:
At 11:38 da manhã, Anónimo said…
Talvez seja pertinente pensar no que o Trout e Ries falam no "fall of advertising e rise of PR". No fundo a publicidade pelas vias tradicionais atinge rápidamente níveis de indiferença e, por muito que se usem os meios tradicionais e a notoriedade espontênea chegue 99,999% isso não se repercute em vendas, porque somos bombardeados de informação por todos os lados.
At 11:18 da tarde, Anónimo said…
boas..., se o tradicional anúncio de 30" já não atinge o ojectivo de aumento de vendas, consumo de um produto então qual será o proximo passo. Manipulação, pressão editorial nas televisões, jornais, etc??? é este o caminho
At 11:00 da manhã, Anónimo said…
Mudar verdadeiramente demora tempo. Algo que os actuais decisores, a todos os niveis, seja político ou económico, não concedem. Nunca como agora se pensou a tão curto prazo.
Ainda há 10 anos, os balanços era anuais. Agora, tudo tem que acontecer em 3 meses.
Por outro lado, a sobrecarga de informação no cérebro dos consumidores, favorece a utilização dos mecanismos mais primários de influência. Vender é fácil, quando se sbe como. Achar que se está a mudar alguma coisa quando se vende, é uma ilusão.
As verdadeiras mudanças são sociais e tecnológicas, nada que a publicidade controle.
At 3:50 da tarde, Consumering said…
Concordo, a publicidade não "controla" a mudança, mas influencia-a, pode acelerar, travar, alterar, tanto que no longo prazo o resultado final seja substancialmente diferente do que seria sem esse efeito.
Um exemplo que conheço bem: Pelo efeito da publicidade o ritmo de crescimento da reciclagem mais do que triplicou nos últimos 3 anos. O resultado, no longo prazo, é que Portugal se poderá transformar, dentro de 6-7-10 anos numa economia recicladora, algo que muito provavelmente não aconteceria sem essa bela publicidade, catalizadora.
At 5:44 da tarde, Anónimo said…
Um bom exemplo.
Pegando nele, também sabemos que o panorama da reciclagem em portugal é bastante confuso. As normas variam de região para região conforme a empresa concessionária.
Fazemos um anuncio que diz: isto vai para o amarelo. Mas isso é válido na região de lisboa e não em santarém. Ou seja, o produto tem que melhorar, ou portugal nunca será uma economia recicladora.
Não há publicidade que resista à microgestão dos comportamentos.
A "Marca" reciclagem até pode ter passado, o Comportamento reciclagem, está a ser inibido por um mau desenho do produto.
Não basta a publicidade chegar ao consumidor, o produto tem que chegar lá primeiro, logo na concepção.
At 6:27 da tarde, Consumering said…
Mas estará mesmo o comportamento reciclagem a ser inibido (de morte) por essas fragilidades (óbvias e absurdas) do produto?
A verdade é que a reciclagem está a crescer a um ritmo equivalente à conversão de 600.000 pessoas por ano (quando antes da publicidade "apenas" aderiam 160mil) num universo de 10 milhões, o "efeito publicidade" poderá, dentro de 5 ou 7 anos causar que o "País Reclica" algo que de outro modo não iria acontecer.
Só para confirmar, esta diferença destes resultados é atribuível em grosso à publicidade, os outros factores (melhoria do produto, melhoria da população) estão a ser demasiado lentos para justificar estes crescimentos.
At 2:43 da tarde, Anónimo said…
Gostava de um post que em vez de criticar, mandar abaixo o trabalho dos criativos e publicitários do nosso país, tentasse demonstrar o que de positivo se tem feito.
Obrigado
At 6:46 da tarde, Anónimo said…
E aí galera, dêem uma conferida nesse link, é uma página que vai mostrar todos os oito filmes da Nike da Copa do Mundo antes de irem para a TV. O primeiro é muito louco e mostra o Eric Cantona com uma baita barba invadindo um estúdio de TV na Alemanha. Vale a pena conferir.
É só acessar http://www.nk6.com.br/jogabonito
At 9:08 da tarde, Anónimo said…
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