Consumering

Se o marketing adapta um negocio ao mercado o que que fazem as empresas que se adaptam ao consumidor? Fazem Consumering. Um blog de artigos sobre como transformar uma empresa comercial num negocio de produtos preferidos pelos consumidores. www.consumering.pt

18/11/2005

14 (mpe) – Se não se percebe a estratégia é porque não há estratégia

Num mercado competitivo, a sorte sorri aqueles que merecem a preferencia dos clientes. O que em termos mais práticos significa que, os negócios melhor sucedidos são aqueles que explicam tintim por tintim aos seus potenciais clientes que comprar ali é melhor do que desperdiçar dinheiro na concorrência. Uma explicação da vantagem competitiva que se convencionou chamar de Motivo de Compra.

Ora acontece que muitas vezes nos perguntamos porque é que um cliente deve preferir ser cliente de um banco ou de uma gasolineira e não conseguimos perceber qual o motivo. É fácil fazer a experiência. Pense um pouco nas empresas das quais é cliente e tente lembrar-se se alguma vez lhe disseram do motivo porque essas são melhores do que a concorrência. Não sabe. Ninguém sabe. Mas mesmo assim essas grandes empresas têm departamentos de marketing cheios de gente bem paga para lhes tomar conta da marca. Então como explicar este fenómeno?

É triste constatar, mas a verdade, nua e crua, é que essas empresas, com bolsos fundos, não têm marketing. Ou por outra, o marketing que têm é mal feito, por isso é como não o ter. Sim, é verdade. Lá porque têm muito dinheiro para fazer publicidade, não quer dizer que a façam bem feito. E para ter a certeza que está mal feito é só tentar preencher o seguinte espaço: “Compre Marca (em vez da concorrência) porque __________________________”. Se não sabe como preencher este espaço e mesmo assim a empresa anuncia abundantemente então quer dizer simplesmente que o dinheiro que eles gastaram foi desperdiçado.

Os empresários e gestores de pequenas empresas costumam ser pessoas com o bom senso de pensar que se uma grande empresa tem determinada despesa é porque sabe o que faz e há uma razão para tal dispêndio. Mas este é um dos casos em que o bom senso é inimigo da inteligência. Mesmo que pareça, sempre que de uma marca, por mais rica que seja, não se perceber o motivo porque esta é melhor do que a concorrência só há uma explicação. A marca está a ser mal gerida.

A única diferença é que uma grande empresa, como um banco, pode desperdiçar dinheiro em coisas inúteis, mas isso não se nota nos lucros ao fim do ano. Afinal essa é a diferença entre uma grande e uma pequena empresa. Uma grande pode fazer asneiras que ninguém repara e ainda sobra dinheiro para tapar a asneira. Ora, numa pequena empresa que se preze, gastar dinheiro para nada significa ter prejuízo e ter prejuízo significa ter dificuldades em assumir as despesas. Não se podem dar ao luxo.

As pequenas empresas não podem se dar ao luxo de anunciarem sem que se perceba para que raio anunciam. Mesmo que seja um pequeno anuncio no Dica da Semana, esse investimento é precioso, não pode ser desperdiçado. Logo, pergunte-se a si mesmo: Quem ler isto será capaz de perceber o meu motivo de compra? Será que o público vai ver o anuncio e perceber que: “comprar aqui em vez de comprar noutro lado qualquer é melhor porque _________________”?

Se a resposta a esta e pequena singela pergunta for um bocadinho vaga então está na altura de soar o alarme, é dinheiro desperdiçado. Leia-se. Qualquer peça de publicidade que não dê para um tipo qualquer perceber só de olhar por um instante porque é que aquela empresa deve ser preferida em vez da concorrência é uma má peça de publicidade. Não há desculpas.

Em alternativa boas peças de publicidade são aquelas que à primeira vista de percebe porque é que a empresa anunciante deve ser preferida em vez da concorrência. Essas sim, têm o potencial para se tornarem num investimento rentável. Mas atenção. Aquela coisa do à primeira vista não é por acaso. Como em todas explicações só há espaço para um argumento de cada vez.

15 Comments:

  • At 12:26 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Eu estou a ler o seu livro e por acaso estou a gostar bastante. Partilho do seu ponto de vista na maioria das questões abordadas. A minha questão é a seguinte:
    Estarão todos enganados menos você? O que se passa com os responsáveis de marketing das empresas que não seguem a mesma linha de pensamento e acção descrita no livro e defendida por si aqui no blog (e não só)?
    Cumprimentos.

     
  • At 12:58 da tarde, Blogger Consumering said…

    Obrigado. Felizmente não estão todos enganados. Há quem esteja certo: Al Ries, Jack Trout, Seth Godin, Sergio Zyman são alguns dos que estão certos.
    E do meu lado, eu tenho visto que o que defendo funciona. Por exemplo, a Sociedade Ponto Verde triplicou o ritmo de crescimento em dois anos, e fê-lo com o mesmo orçamento. Acredito no que acredito porque já vi que funciona.
    Mas a sua pergunta é mais profunda, estará a maioria das pessoas erradas? Infelizmente a resposta é: A maioria das pessoas está iludida.
    Eu tento usar o último capitulo do livro para explicar isso mesmo. Existem "casos de sucesso" que desafiam toda a lógica e são verdadeiramente milagrosos. Afinal isto do mkt é uma ciencia social, com as teorias cheias de buracos e incongruências. O problema está em que a maioria (sim bem mais de metade) dos profissionais de mkt e pub perseguem os milagres de uma forma algo cega e religiosa. Talvez porque viram milagres a acontecer, esperam que a eles lhes suceda o mesmo (ainda por cima quando rezar dá menos trabalho do que fazer). Esta esperança no milagre é depois contagiosa. Os decisores muitas vezes preferem um "milagreiro" a um "personal trainer" e os "milagreiros" vão conquistando mercado. Até que se cria o hábito e já que "toda a gente faz assim, porque hei de ser eu o diferente".
    Claro que se todos se mandarem dum precipício isso não deveria ser incentivo, mas serve. Tanto serve que os que vêm o rei nu acabam por se calar ou por ser vozes solitárias. Felizmente as vendas não enganam e sucessos como a Tele2 ou como o Ponto Verde estão aí para demonstrar que vale a pena fazer o que é certo.
    Mas tudo isto não me impede de ficar preplexo com "estado da coisa". Imagine-se o que seria se os Financeiros acreditassem que os lucros são secundários e que o que interessa é gastar? Imagine-se que os engenheiros acreditavam que o funcionamento não é importante, o que interessa é ter roldanas e rodas dentadas? Mas, incrivelmente na pub a maioria acha que as vendas não interessam, que o que interessa é a notoriedade da publicidade e outras balelas que tais. É um milagre!

    Pronto, já chega, volte sempre e muito obrigado

     
  • At 3:22 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Henrique,

    Vi os autores que mencionaste e fiquei curioso sobre a tua opinião sobre dois autores. Um deles é Don Peppers (Mass Customization)e o Kevin Roberts (Lovemarks)!

     
  • At 8:57 da manhã, Blogger Consumering said…

    B'dia Bruno, Não estou bem documentado sobre esses. Do Don Peppers vou mais ou menos a meio do "return on customer"(coincidência) e de Roberts não li nada porque o "digest" do lovemarks me inspira pouca consideração.
    À 1ª impressão, parece-me que o Peppers é um muito bom gestor, mas não nessecariamente um bom marketeer e o Roberts parece ser apenas um publicitário sem interesse pelo desenvolvimento do negócio (dos outros). Mas posso estar (e muito) enganado. Terei uma melhor ideia do Peppers dentro de dias. Mas só se tiver paciência é que pego no "lovemarks", antecipo que seja uma "bulshitada".
    Abç Henrique
    PS - Já que falamos de livros, para quem ainda agora está a começar, que não se dispersem pelos grandes teóricos, recomendo antes iniciar-se com: "marketing contra intuitivo" Clancy/Kreig e, claro, o "Compre Este Porque" de yours trully ;)

     
  • At 2:36 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Henrique,

    Estou a meio também do Return on Customer e estou a gostar bastante.Em relação ao " Lovemarks" já o li e acho que não me acrescentou nada, á excepção de uma matriz que ele apresenta sobre as marcas. O "Compre este Porque" como já disse antes já o li e foi ele quem me trouxe aqui as nossas conversas.

    abraço
    Bruno

     
  • At 5:36 da tarde, Blogger Consumering said…

    (O "ps" era dedicado aos leitores mais "eventuais")

    O "Return on Customer" está a ser uma leitura interessante mas (é muito B2B) não anda bem pelos territórios que mais me interessam (o consumidor).

    Para quem já vai avançado na compreensão da cabeça colectiva, o Malcom Gladwell (tipping point/blink) têm óptimas fontes de inspiração (não propriamente para aplicar). Uns exemplos fabulosos!

    Mas se tiver de escolher uma alma mater um verdadeiro guru, para mim é o Jack Trout (não sou tão fã dos mais recentes trabalhos do Al Ries).

    Bruno, como chegaste ao meu livro? O que despoletou o interesse comum?

     
  • At 4:51 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Henrique,
    Já tinha visto várias vezes o livro nas prateleiras mas o que me levou a abrir e a comprar foi uma entrevista/profile teu que li, penso que na Marketeer. Talvez o facto de trabalhares no sector Media, que é o meu, me tivesse influenciado.Acho que o " Compre este Porque" é optimo tanto para que se está a iniciar como para quem já tem conhecimentos.

    abraço
    Bruno

     
  • At 6:02 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Boa tarde! Visto ser eu ainda um pouco "verde" nesta matéria, mas com uma enorme "sede" de conhecimento, que livro me recomenda para "começo"? Já estou quase no fim do seu (que estou a gostar bastante e gostava de continuar a minha leitura com livros da "especialidade"). Já agora, esteve presente no Estoril? Eu estive no Congresso para estudantes onde esteve um amigo seu (pelo menos foi o que ele disse) a falar de "Tryvertising". Qual a sua opinião em relação a eventos deste género?
    Só a titulo de curiosidade estou apenas no segundo ano de Marketing em Setúbal.
    Cumprimentos!

     
  • At 7:15 da tarde, Blogger Consumering said…

    O que aconteceu no Estoril? E que amigo terá sido esse? Não estou a ver o que seja o tal do tryvertising...
    Sobre livros, tirando o meu sobre o qual sou obviamente suspeito, recomendo (vivamente) os trabalhos seminais da dupla Ries & Trout:
    -Positioning (escrito há 25 anos e o princípio de tudo)
    - 22 immutable laws of marketing (o melhor livro de sempre sobre o assunto)
    - Marketing Warfare (a mesma coisa de sempre com uma embalagem gira)
    Depois destes creio que está feito o tirocínio mais básico e abre-se as portas para:
    - Purple Cow, Seth Godin
    - The end of advertising, Sergio Zyman.
    São menos bons tecnicamente, mas escritos por personalidades mais cativantes.
    Depois disto assimilado, acho que qualquer "estudioso" está pronto para ler tudo o resto mas desta vez com uma posição crítica.

    Voltando ao registo egocêntrico. O "compre este Porque" pode (deve) depois de lido ser relido com especial atenção para as caixas e tantando aplicar o questionário a uma marca em particular, como trabalho prático.

     
  • At 9:50 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Visto ter sido uma iniciativa de Marketing pensei que estivesse a par, mas o que aconteceu no Estoril foi a Semana Nacional de Marketing com um Congresso Internacional de Marketing e um Congresso dos Estudantes de Marketing e Comunicação.
    Vou procurar os livros dos quais mencionou e tentar lê-los assim que me for possivel... O seu está quase quase no fim...
    Em relação ao tryvertising deixo-lhe aqui um texto retirado do site da marketeer:
    "TRYVERTISING
    Just Try It

    Levar o consumidor a experimentar um produto num ambiente agradável, descontraído. É o tryvertising, uma forma mais apurada de sampling, que conhece já alguns exemplos em vários mercados. Em Portugal, os primeiros passos estão a ser dados por marcas do sector automóvel.A ideia é: experimente! Porque, se gostar, pode vir a comprar."
    Ou um texto do site da APPM:
    "Tryvertising: Comunicação Experiencial
    Os dias da Publicidade massificada estão a chegar ao fim. O consumidor é cada vez menos sensível à publicidade tradicional, acções de Direct Mail, Banners… estamos na era do Consumidor Experiencial, pelo que as organizações têm que encontrar formas mais estimulantes de interagirem com os seus clientes. O Tryvertising não é mais que isto: novas formas do consumidor se tornar familiar com as novidades do mercado através da sua experimentação, integrando os novos produtos/serviços no dia-a-dia do consumidor de forma diferenciada e estimulando. A diferença está em que o consumidor passe a recordar determinado produto/serviço não pela mensagem veiculada, mas pela experiência vivida."
    O orador de que falo é o Sr. Nuno Alves da Silva, que fez uma referência indirecta à sua pessoa, usando o termo "amigo". Espero não ter cometido nenhuma gaffe...

     
  • At 10:49 da manhã, Blogger Consumering said…

    Nenhuma gaffe, nem nada que se pareça! O Nuno Alves da Silva é meu amigo mesmo (o que é um previlégio) e também é verdade que tinha ouvido falar do "experience marketing" como tema da semana nacional do marketing. Simplesmente não relacionei. Não reconheci.
    "by the way" eu acho que esta história do "experience marketing" e do "marketing relacional" e do "marketing de guerrilha" são apenas buzzwords para distrair (leia-se tourear) os "pseudo-gestores".

     
  • At 10:50 da manhã, Blogger Consumering said…

    Já agora, como foi essa referencia? A propósito de?

     
  • At 10:51 da manhã, Blogger Consumering said…

    curiosidade :)

     
  • At 12:07 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Pois... Foi a propósito da tão repetida história do garfo... Que tinha a ver com a questão da "Marca Portugal". Também ele é da opinião que Portugal até tem marcas com capacidade de se expandirem e internacionalizarem-se, mas que não o fazem.
    Eu não sei até que ponto será uma buzzword. A questão do neuromarketing é relevante. Se a marca vender uma experiência memorável, vai ficar gravada na memória do consumidor que quererá repetir. Veja-se o caso do Sr. António Quinas e o seu sucesso com a empresa "A vida é bela". Apesar de neste caso, o que se vende é a experiência em si. Quem vende um bem terá também que associar uma experiência memorável, penso eu.

     
  • At 12:18 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Ahhh, o "garfo"! Gosto muito desse exemplo (se o orgulho não me condenar ao inferno...)

     

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