Comentários à promoção conjunta do turismo dos Países Ibéricos
Ver anunciado nas notícias que Portugal se vai submeter a sua promoção turística à Espanha é ofensivo. Pelo menos para quem paga impostos em Portugal, na cada vez mais vã esperança de ver o País progredir.
Nota - Desde 2001 que Portugal diverge da média europeia no mesmo momento em que Espanha cresce a ritmos superiores a 3% ao ano
Como se não bastasse que o nº de entradas em Portugal cresça menos do que cresce na média da indústria e até do que cresce em Espanha. Voluntariamente faz-se o pior, entrega-se deliberadamente a promoção turística de Portugal ao seu maior concorrente, um concorrente que ainda por cima é uma brutal potencia do sector.
Nota - A Espanha é a segunda potencia mundial do sector do Turismo, enquanto o pobre Portugal não passa de 20º sem crescer desde 2004.
Pode ser que esta submissão traga alguma obscura vantagem logística, ou facilite uma eventual negociação de favores. Mas do ponto de vista das marcas e dos consumidores, a única diferença entre a Ibéria e Espanha é que na Ibéria não há espaço para um Portugal. Enquanto a Espanha ao menos pressupõe a existência de outro país na península, a Ibéria diz que é tudo a mesma coisa, sem motivo para variar.
Nota - O melhor mercado emissor para Portugal é a Inglaterra, mesmo assim, Espanha acolhe 7 vezes mais turistas ingleses do que o faz Portugal.
Ora, juntar Portugal e Espanha numa pretensa Ibéria de promoção, resultará apenas que os eventuais turistas arrastados no processo, voltarão das suas férias em Barcelona ou Tenerife descansados por de uma só penada terem visitado toda a Ibéria. Um mal, que tendo fraca consequência nos mercados emissores do Japão e EUA (onde Portugal é já à partida inexistente) é grave pela entrega a Castela do Brasil, o único mercado emissor onde Portugal tem ainda vantagem sobre a Espanha.
Nota - A TAP tem assente a sua bem sucedida estratégia na ponte para o Brasil, uma rota que se arrisca a perder para a Ibéria)
Bem que se pode procurar por algum ganho nesta ideia suicida, mas pela lógica do marketing ela simplesmente não existe. O marketing procura diferenciação, o que é bem diferente de ser abafado pelo concorrente maior. As marcas servem para ser reconhecidas, algo bastante contrário à ideia de as encostar a marcas maiores. Os negócios interessam se crescerem, um resultado que esta entrega aos concorrentes não ajudará a acontecer.
Antecipando a gravidades da medida, fica-se a desejar que exista algures no mundo uma entidade da concorrência do turismo que (sem passar a vida a parar o cronómetro) trate de evitar que a Espanha, qual Microsoft, compre tudo o que mexa em Portugal.
Nota - Da banca ao Turismo, com o beneplácito de uns iberistas interesseiros, não há registo de um sector económico em que a presença portuguesa em Espanha supere a presença inversa
Mas do mal o menos. O impacto desta medida na Marca Portugal será limitado. Nocivo, mas limitado, porque a Marca Portugal é já tão mal tratada, está à partida tão desgastada, que por estes dias já não há muito pior que ainda se lhe possa fazer. Se os próprios produtos portugueses disfarçam a sua origem para vender no estrangeiro e muitos estrangeiros julgam já à partida que Portugal é uma parte de Espanha, pode agora o assunto ficar arrumado de vez. Fecha-se a porta e entrega-se a chave, talvez a torre de Belém fique mais bonita na Avenida Castelhana.
Nota - Até as marcas portuguesas ricamente apadrinhadas pelo ICEP parecem estrangeiras (Fly London, Mack James, Muratti Florentino, Pablo Fuster, etc.)
(Opinião para o Fórum Ibérico do Diário Económico)