Consumering

Se o marketing adapta um negocio ao mercado o que que fazem as empresas que se adaptam ao consumidor? Fazem Consumering. Um blog de artigos sobre como transformar uma empresa comercial num negocio de produtos preferidos pelos consumidores. www.consumering.pt

03/10/2006

Comentários à promoção conjunta do turismo dos Países Ibéricos

Ver anunciado nas notícias que Portugal se vai submeter a sua promoção turística à Espanha é ofensivo. Pelo menos para quem paga impostos em Portugal, na cada vez mais vã esperança de ver o País progredir.

Nota - Desde 2001 que Portugal diverge da média europeia no mesmo momento em que Espanha cresce a ritmos superiores a 3% ao ano

Como se não bastasse que o nº de entradas em Portugal cresça menos do que cresce na média da indústria e até do que cresce em Espanha. Voluntariamente faz-se o pior, entrega-se deliberadamente a promoção turística de Portugal ao seu maior concorrente, um concorrente que ainda por cima é uma brutal potencia do sector.

Nota - A Espanha é a segunda potencia mundial do sector do Turismo, enquanto o pobre Portugal não passa de 20º sem crescer desde 2004.

Pode ser que esta submissão traga alguma obscura vantagem logística, ou facilite uma eventual negociação de favores. Mas do ponto de vista das marcas e dos consumidores, a única diferença entre a Ibéria e Espanha é que na Ibéria não há espaço para um Portugal. Enquanto a Espanha ao menos pressupõe a existência de outro país na península, a Ibéria diz que é tudo a mesma coisa, sem motivo para variar.

Nota - O melhor mercado emissor para Portugal é a Inglaterra, mesmo assim, Espanha acolhe 7 vezes mais turistas ingleses do que o faz Portugal.

Ora, juntar Portugal e Espanha numa pretensa Ibéria de promoção, resultará apenas que os eventuais turistas arrastados no processo, voltarão das suas férias em Barcelona ou Tenerife descansados por de uma só penada terem visitado toda a Ibéria. Um mal, que tendo fraca consequência nos mercados emissores do Japão e EUA (onde Portugal é já à partida inexistente) é grave pela entrega a Castela do Brasil, o único mercado emissor onde Portugal tem ainda vantagem sobre a Espanha.

Nota - A TAP tem assente a sua bem sucedida estratégia na ponte para o Brasil, uma rota que se arrisca a perder para a Ibéria)

Bem que se pode procurar por algum ganho nesta ideia suicida, mas pela lógica do marketing ela simplesmente não existe. O marketing procura diferenciação, o que é bem diferente de ser abafado pelo concorrente maior. As marcas servem para ser reconhecidas, algo bastante contrário à ideia de as encostar a marcas maiores. Os negócios interessam se crescerem, um resultado que esta entrega aos concorrentes não ajudará a acontecer.
Antecipando a gravidades da medida, fica-se a desejar que exista algures no mundo uma entidade da concorrência do turismo que (sem passar a vida a parar o cronómetro) trate de evitar que a Espanha, qual Microsoft, compre tudo o que mexa em Portugal.

Nota - Da banca ao Turismo, com o beneplácito de uns iberistas interesseiros, não há registo de um sector económico em que a presença portuguesa em Espanha supere a presença inversa

Mas do mal o menos. O impacto desta medida na Marca Portugal será limitado. Nocivo, mas limitado, porque a Marca Portugal é já tão mal tratada, está à partida tão desgastada, que por estes dias já não há muito pior que ainda se lhe possa fazer. Se os próprios produtos portugueses disfarçam a sua origem para vender no estrangeiro e muitos estrangeiros julgam já à partida que Portugal é uma parte de Espanha, pode agora o assunto ficar arrumado de vez. Fecha-se a porta e entrega-se a chave, talvez a torre de Belém fique mais bonita na Avenida Castelhana.

Nota - Até as marcas portuguesas ricamente apadrinhadas pelo ICEP parecem estrangeiras (Fly London, Mack James, Muratti Florentino, Pablo Fuster, etc.)

(Opinião para o Fórum Ibérico do Diário Económico)

02/10/2006

M.Port.5) Investimento sem retorno é despesa

(Marca Portugal nº5 de 32)

A eficácia de um investimento mede-se pela quantidade de resultados que este traz. É até uma conta bastante simples de se fazer: Divide-se o quanto se ganhou por o tanto que se gastou e sai daí um rácio da eficácia do investimento que se fez. É bem simples e directo, mas um dos problemas desta lógica aritmética, dá-se quando, como no caso do Comércio Externo de Portugal, não há nada de jeito para pôr no numerador (que para os leigos, é parte de cima da divisão) e, como tal, o investimento realizado (o que se põe na parte debaixo da equação) não só não chegou a ser eficaz, quanto nem sequer chegou a ser digno do nome investimento.
No caso do Comércio Externo Português, o dinheiro gasto na promoção de Portugal e das suas marcas não qualifica como investimento, porque os resultados globais atingidos são genuinamente maus. Se o déficit da balança de transacções portuguesa aumenta todos os anos ao ritmo de uns 10% de cada vez, infelizmente, isso só pode significar que o dinheiro gasto na promoção das exportações foi tristemente desbaratado.

(saber mais em "Vende-se Portugal")